IPA, você já deve ter ouvido falar, mas caso não tenha, a pessoa ao seu lado nesse momento provavelmente já, arrisco ainda dizer que ela é ou conhece um cervejeiro caseiro.
IPA é o estilo de cerveja preferido por 99% dos cervejeiros, o outro 1% a prefere, mas não assume.
Me chamo Wilton Fioravante, sou cervejeiro da Vorage Craft Beer e nessa minha primeira coluna irei desmistificar as famosas e polêmicas cervejas India Pale Ale (IPA).
História da India Pale Ale
A história começa em meados dos anos 1700, quando surge na Inglaterra uma nova variação de cervejas, parecida com os estilos Porter e Pale Ale já difundidas na época.
Sua principal diferença estava nas adições de lúpulos bem mais elevadas, promovendo assim um amargor mais potente e ainda o aroma que essa bendita florzinha tem. E assim nasce a mãe de todas, a English IPA, a primeira de todas as centenas de variações de IPA’s que surgiriam e surgem até hoje.
Uma cerveja de cor acobreada, dulçor marcante dos maltes, aromas florais, picantes e terrosos característicos dos lúpulos daquela região, um balanço perfeito entre dulçor e amargor, sem dúvida a preferida pelos bebedores puristas de plantão.
Mais de 200 anos depois um grande movimento cervejeiro se inicia nos EUA, e seguindo a máxima de que nada se cria, tudo se transforma, os americanos começam a criar modificações nos estilos de cervejas já consolidadas no mundo, deixando-as com um toque local, valorizando o que a região tem de melhor, os lúpulos.
E falando em lúpulos, a IPA não poderia ficar de fora, logo começam surgir as primeiras American India Pale Ale (AIPA).
Essa iluminada reinvenção, de todas as variações de IPAs, é talvez, a mais presente nos copos de bebedores de todo o mundo, uma cerveja inspirada na precursora English IPA, porém com caráter de malte extremamente menor ou inexistente, dando protagonismo total aos lúpulos americanos, tanto em seu amargor quanto no aroma.
A gigantesca variedade de lúpulos cultivadas nos EUA proporcionou variedades infinitas dentro do mesmo estilo e como se isso não bastasse, a criatividade do americano elevou esse fator ao extremo, criando técnicas e mais técnicas de produção, os cervejeiros “caseiros” americanos são responsáveis por boa parte da transformação do cenário cervejeiro no mundo.
E em meio a experimentos e gambiarras, torna em evidencia a técnica mais aclamada pelos Ipeiros, a técnica se chama dry hopping, que nada mais é que adições generosas de lúpulos na fase fria do processo de fabricação, geralmente feitas no final da fermentação. O dry hopping proporciona aromas extremos de lúpulos, cítricos, florais, frutados e resinosos na cerveja, e por sua vez impactando minimamente no amargor.
Pronto, dai em diante passou-se ter na fabricação de cervejas o domínio de extrair apenas o caráter desejado do lúpulo e no momento desejado, aroma, sabor e amargor, cada um desses disponíveis de forma quase que isoladas. É um sensorial único que só quem já provou uma bela American IPA sabe do que estou falando.
Família das IPAs
A partir do surgimento dessa variação americana e do desenvolvimento da tecnologia cervejeira, surgem dezenas de subestilos de IPA, cada uma com suas peculiaridades, e dessa forma a boa e velha IPA vem se mantendo presente e ainda atual.
E pra começar a desenrolar toda essa família das IPAs, vou listar algumas e talvez principais variações do estilo.:
❋ Imperial IPA (ou Double IPA): É a versão forte das IPAs, com amargor e álcool ainda mais pronunciados, podendo chegar aos 10% de volume alcoólico, ela traz o extremo do amargor, essa não é, sem duvida alguma, para iniciantes. (mas você chega lá)
❋ Session IPA: Uma IPA leve, focada em refrescância e alto drinkability ou bebilidade, se preferir, ficam na casa dos 4,5% de volume alcoólico e não costumam passar dos 30 IBU (International Biterness Unit ou Unidade Internacional de Amargor). Em resumo, uma IPA leve, pouco amarga mas sem perder a complexidade de aromas e amargores. (Excelente iniciação nas IPAs).
❋ New England IPA (ou Juicy IPA): A IPA do momento. Nas NE IPAs o amargor se torna coadjuvante, elas são completamente turvas, não filtradas, no gole, preenchem toda a boca, além disso, recebem cargas absurdas de lúpulos no dry hopping, tornando-a aromática como nenhuma outra da família será.
Uma dica importante, os subestilos se misturam, então não se assuste caso encontre por aí uma Imperial New England IPA ou uma Kveik Double Black IPA, essa salada de IPAs não tem fim, bora de IPA?
Esse foi meu primeiro texto para a coluna, agradeço a Revista FOCO pelo convite.
Restou alguma dúvida, tem uma crítica ou apenas quer bater um papo sobre breja? Me encontre nas redes sociais, será um prazer. Ainda mais se tomando uma boa artesanal!
Até a próxima .