Conhecido familiarmente como coronavirus, esta doença que atinge rapidamente os pulmões, fez a humanidade se recolher em suas residências e causou medo generalizado em razão de sua velocidade de contaminação e, principalmente, do desconhecimento de seu tratamento, o qual cientistas de todo o mundo se debruçam pela busca da cura desta enfermidade física.
Mas observo que o assunto que está tomando maior atenção do mundo é o isolamento social.
Adotado como método de prevenção¹ (e posvenção²) da proliferação do COVID-19, esta contramedida encontra adeptos e descrentes de sua eficácia perante este mal invisível que padeceu milhões e consumiu a vida de milhares de pessoas.
¹ Métodos e ações que antecipam a agir de forma inadequada frente a um problema.
² Termo criado pelo doutor Edwin Shneidman (1973) e introduzido no Brasil por Karen Scavacini (2011) como ação de prevenção para futuras gerações afetadas pelo suicídio de algum ente- querido, mas que aqui amplio seu uso face a importância de ações futuras de prevenção que esta atual pandemia do COVID-19 nos mostra. (Fonte: https://vitaalere.com.br/sobre-o-suicidio/posvencao/o-que-e-posvencao/)
Mas qual a relação do isolamento social com a saúde mental?
Pela brusca mudança de nosso dia-a-dia, fora o temor citado acima, a adaptação de uma nova rotina limitada em uma área de metro quadrado revela como não estamos, realmente, cientes e conscientes de nós e daqueles com os quais convivemos.
Já que o comportamento comum que temos frente a um incômodo próprio ou com o outro é aquele de se retirar e ir para um lugar o qual nos sentimos acolhidos, que, geralmente, está fora de nossa casa e de nosso eu, já que muitas vezes o que nos gera este desconforto está dentro dela e sobretudo em nós.
Esta busca no “lá fora” é o maior problema, pois isso se dá neste mundo o qual vivemos que é relativamente extrovertido e o isolamento social expõe como é difícil a introversão, o olhar para si mesmo, e como isso pode ocasionar em perturbações psíquicas como forma de compensação por tudo aquilo que não damos importância em nós; visto que este isolamento, por mais que seja dito social, é claramente pessoal.
Este “estar isolado em si” é um self-diving, um mergulhar em si mesmo, um aprofundar no autoconhecimento, mas como pode ser visto em depoimentos de mídias sociais, e até mesmo nos atendimentos psicológicos, muitos têm a sensação de estarem se afogando na própria mente, na própria vastidão e percebendo a grandeza da tempestade que existe dentro de si mesmos.
Os maiores relatos são de crises de ansiedade e de depressão, os quais eu digo que são “normais”³ para o estado atual da situação, pois a ansiedade é o anseio do que pode acontecer no futuro e a depressão é o perder a visão de que há algo pela frente.
E acrescentando um pouco à lista de possíveis distúrbios mentais que podem acompanhar o isolamento, podemos citar:
● a hipocondria, que é fato de pensar estar sempre doente e/ou possuir sintomas diversos diante do mínimo sinal de mal-estar;
● a automedicação, que pode gerar intoxicação medicamentosa e efeitos adversos pelo uso inadequado de remédios por acreditar estar se autoimunizando;
● a claustrofobia, que é a sensação exagerada de estar sendo sufocado pelo ambiente quando este não apresenta visivelmente uma forma de saída ou fuga;
● o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), sendo pensamentos irracionais que se repetem e que levam a comportamentos estereotipados, como por exemplo o ato de lavar as mãos forçadamente a ponto de machucá-las por pensar que estão sempre sujas ou contaminadas; etc.
³ A definição básica de transtorno mental é de comportamentos e pensamentos intensos a ponto de serem impeditivos e que geram sofrimento para o indivíduo e/ou para os outros a sua volta.
Então como ter saúde mental nestes tempos conturbados?
❋ Preencher seu tempo com lazeres os quais aprecia já é um grande auxílio, pois estes funcionam como redutores de nível de estresse.
❋ Aprender novas coisas, já que a aprendizagem demanda atenção, foco e dedicação.
❋ Continuar a trabalhar em projetos pessoais, visto que o presente é onde vivemos.
E para fortificar-se é de extrema importância o início ou a continuação da psicoterapia via online, dado que nós profissionais da saúde mental também estamos nesta luta nos dedicando pelo seu bem-estar.
Neste isolamento pessoal vamos nos descobrir, para quando voltarmos ao mundo exterior sejamos mais como nós-mesmos.
Não há nada mais saudável mentalmente do que conhecer a si mesmo.