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Uma história digna de ser contada

Maria Jovita Braga Ocon 01

Inegavelmente uma batalhadora, Maria Jovita Braga Ocon completou 101 anos de vida em 2022

Imagine você, atravessar o tempo e o espaço, acompanhando um século de mudanças, enquanto escreve a própria história… Assim como a vida, a longevidade também é um presente a ser celebrado e Maria Jovita Braga Ocon, em 14 de fevereiro de 2021, realizou um feito, sem dúvida, a ser homenageado: tornou-se- uma centenária.

Descendente de imigrantes europeus, Dona Maria Braga, como era conhecida em Ibitinga, começou sua trajetória de vida na aldeia indígena Limão Verde, no município de Aquidauana, estado de Mato Grosso do Sul.

Nasceu em uma família numerosa de 12 filhos, seis homens e seis mulheres, que pela falta de recursos permitiu que ela fosse levada, ainda muito nova, para ser criada por uma tia, casada e sem filhos. Aos 12 anos, porém, com o falecimento da tia, Maria Braga foi devolvida aos verdadeiros pais, Ângelo Calvi e Maria Antonia Braga, na aldeia onde havia nascido.

Foi impactante para ela, saber que a tia não era sua mãe, descobrir-se com muitos irmãos e mudar de localidade. Ainda, ter convivido tão pouco com o pai, que faleceu pouco tempo após seu regresso, quando ela estava com 14 anos.

A vida para Dona Maria Braga foi sempre uma “caixa de surpresas”, mas que ela com muita coragem e sabedoria soube transformar em uma bela história a ser deixada como legado para os cinco filhos, 14 netos, 16 bisnetos e dois tataranetos.

CASAMENTO E MATERNIDADE

   Ainda no luto paterno, Maria Jovita encantou-se por um uruguaio, 24 anos mais velho, que trabalhava numa charqueada (frigorífico que fazia charques para venda). Com quatro meses de namoro casaram-se. Embora ela não tenha conseguido autorização do juiz de Aquidauana para o matrimônio, por ter 15 anos, uma outra aldeia indígena — Taunay —, consentiu em realizar a união no Cartório.

A vida de casada não foi fácil. Segundo Maria, o marido tinha um gênio difícil, o que tornava a adaptação aos lugares e patrões complicada. Aos 17 anos foi mãe pela primeira vez. A criança, Ney, com apenas 40 dias de vida, precisou enfrentar uma viagem para um novo emprego do pai, em Juiz de Fora, que durou pouco tempo e o casal e o filho foram para São Paulo, também por breve estadia.

Da capital paulista voltaram de trem para Mato Grosso do Sul, onde se instalaram num rancho à beira do rio Aquidauana e Gilberto, o marido, voltou à charqueadora. Uma safra depois de instalados, o marido resolveu mudar-se para o Paraguai.

Maria Jovita sempre o acompanhou nas viagens, devido às mudanças de emprego. A viagem, desta vez, levou 10 dias. O caminho para Assunção era inóspito e passaram muito calor e dificuldades, acomodados em uma carreta de boi, com uma criança de 1 ano e meio. Por lá, permaneceram 18 meses e Maria engravidou novamente. Em sua lembrança, foram meses de muita pobreza, com o marido trabalhando em serviços variados como carroceiro, ajudante geral e pedreiro.

Maria, grávida, resolveu voltar ao Brasil com o filho pequeno. Pediu auxílio na embaixada brasileira e a ajuda foi a expatriação. Apenas para ela e o filho. Veio para Aquidauana morar com a mãe na antiga chácara da família. O marido ficou no Paraguai e veio depois. Na chácara, o casal acomodou-se por um tempo maior e a família aumentou. Nasceram as três filhas do casal: Nelda, Tereza e Odila. Foi quando Maria virou costureira: fazia as roupas das crianças, do marido e da “bugraiada”. Depois disso, ainda veio o caçula, Paulo.

EMPREENDEDORA NATA

Em busca de uma vida melhor, a família continuou suas andanças. O destino seguinte foi o Estado de São Paulo. Primeiro, moraram 10 anos em Barretos, onde Maria passou a costurar para fora. Para juntar dinheiro, trabalhou uma safra na colheita de algodão. Com os quatro mil cruzeiros arrecadados, comprou roupas e passou a vender de porta em porta.

Em julho de 1955, a família chegou a Ibitinga, depois de outras paradas na região. O marido veio trabalhar em frigorífico. Vieram o casal, quatro filhos, um cachorro e um gato, com um pequeno capital.

A decisão de estabilizar-se na cidade foi de Maria, que conheceu Dioguina Sampaio e duas costureiras, Adelina e Georgina, que vendiam peças bordadas de enxoval. Maria resolveu “vender bordado”. Fazia viagens para o Paraná, acompanhada pelo filho Nei, levando em consignação as peças feitas por elas e as vendia por lá. “Não sobrava nada”, contava dona Maria.

Fez estas viagens durante um ano e juntou capital para adquirir máquina de bordar. Em 1956 abriu em Ibitinga a Confecções Teresa, rebatizada depois como Bordados Braga. Contratou bordadeiras (segundo conta, chegou a ter 300 funcionárias) e

desenvolveu suas habilidades comerciais, deixando marcado seu nome como empresária do ramo tradicional na cidade: a venda de bordados.

A empresa continuou em funcionamento muitos anos após sua aposentadoria, aos 68, em 1989. Seguiu pelas mãos da filha, Tereza, e ainda hoje mantém-se viva, com outros tipos de mercadoria, administrada por um sobrinho.

UMA VIDA FELIZ

Aos 56 anos, em 1978, Dona Maria Braga ficou viúva. Foi, sem dúvida, uma motivação a mais para enfrentar os desafios e alcançar sucesso, em nome da família. Desbravadora, ela abriu caminhos para que os filhos escrevessem uma história diferente da sua. Todos estudaram, constituíram suas famílias e vivem bem.

Foi uma vida de luta, mas também de sucesso. O que ela mais gostava de fazer era viajar e negociar. Conheceu muitos estados e praias brasileiras enquanto comprava e vendia um imóvel aqui e ali para passar o tempo. Apesar das limitações físicas, naturais pelo avanço da idade, ela amava a vida, adorava viver. Amava tomar sol no jardim, ficar próxima à natureza, assistir à missa na televisão e seguir cumprindo seu destino com bravura e gratidão por cada dia vivido. “E muito bem vivido, obrigada!”

Em 16/02/2022, com 101 anos, Dona Maria Braga partiu em paz, com o orgulho e sentimento de ter cumprido com muita honra sua missão, deixando um legado de trabalho, honestidade e caráter a todos a sua volta.

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