Como são misteriosos os percalços dos artistas, não é? Nem sempre um cineasta seguiu, desde o início, essa mesma carreira. Muitos diretores famosos e conceituados, por exemplo, sequer fizeram faculdade de cinema.
Hoje, no #PAPODECINEASTA, entrevisto o querido roteirista e diretor Guilherme Machovec, mais conhecido como Guily! Meu mais novo amigo, além de colega de profissão. Nossos caminhos se cruzaram quando fomos convidados para exibir nossos filmes de forma online, no projeto indiano: Film Abhi Baki Hai.
Como tudo começou…
“Minha trajetória se iniciou na música, quando eu tinha uns 15 anos. Comecei a dar aulas e tocar na noite. E ali comecei a compor também. E por causa da composição acabei indo parar no teatro, porque a partir de então eu compunha trilhas para os espetáculos. Mas também descobri que gostava de atuar, de dirigir e escrever… Então criei uma companhia de teatro em 2003, chamada: ‘A Companhia Olimpo´, que funcionou até 2012. E lá fiz mais de 30 peças de teatro. Uma delas chamava: ‘Sorria’, em homenagem ao Charlie Chaplin. E junto da peça também exibíamos filmes dele em escolas públicas. E foi aí que acabei mergulhando nas obras dele. Eu nunca havia estudado cinema, mas acabei me encantando pela área. Antes disso, acreditava que minha carreira seria apenas no teatro. Mas dentro dessa mesma peça ´Sorria´ tinha um curta – que foi o primeiro que eu dirigi – que seguia essa estética Chaplin. Eu acabei comprando minha primeira câmera, toda simplesinha, e dei início a essa nova paixão”.
“Ao longo dos anos fui me aprimorando nas técnicas de gravação, edição, direção… Até que em 2012/2013, eu fiz uma série chamada: ‘A capa do livro’, que era um projeto mais ousado. Era para ser um longa-metragem, primeiramente. Mas por motivos técnicos acabei transformando em websérie, no youtube. Na mesma época eu consegui fazer o meu primeiro curta-metragem que chama: ´O adágio da procura´, que foi o primeiro projeto a ser selecionado para um festival. No caso era um festival na Espanha e que marcou muito a minha carreira. Pois acredito que nunca tinha tido tamanho reconhecimento no teatro. O cinema me deixou perplexo por causa da capacidade que ele tem de unir as pessoas. Exibir meu filme em lugares que nunca fui e talvez nunca irei…
Não fiz faculdade de cinema, mas a partir do meu primeiro curta-metragem, eu segui fazendo cursos livres de cinema. Os cursos técnicos. E fui me aprimorando, gravando outros curtas… Depois acabei dando aulas em algumas escolas, agências… Onde tive a oportunidade de aprender muito e conhecer muitas pessoas bacanas.
Meu filme ‘Perto Profundo’ foi o de maior visualização que eu já fiz. Tem cerca de 600 mil visualizações lá no Youtube. Eu escrevi e dirigi… E de última hora tive que assumir a direção de fotografia, ou seja, a iluminação e a câmera, porque um amigo meu, que seria o diretor de fotografia, não pôde comparecer. E foi justamente com esse projeto que eu ganhei o meu primeiro prêmio no cinema! O prêmio de Melhor Fotografia!”
“O filme ‘NUDES’ foi, de fato, meu primeiro longa, e nasceu de uma peça de teatro que eu estava tentando montar com alguns amigos meus, que eram atores e que tinham criado a história junto comigo. Mas quando eu percebi que não teríamos dinheiro para fazer a peça, pensei em transformar num filme. Acreditei que conseguindo as locações, daria para concretizar. Porque eu conhecia pessoas interessadas em realizar um longa. E foi assim… Em menos de um mês estávamos filmando. E demorou dois anos para ficar pronto. Desde o momento que comecei a escrever até o dia do lançamento. E foi um projeto que surpreendeu, porque não havia grandes recursos e nem expectativas, fossem elas artísticas ou comerciais. Eu só queria ter aquela experiência e simplesmente quis fazer.
Conseguimos apoio de roupa e locação, mas não teve nenhuma verba. Todo mundo do filme virou apenas ´sócio´ do filme (risos). Tudo que o filme recebe, entra para as pessoas que trabalharam nele. É uma maneira que eu acho bonita de trabalhar. Um pouco romântico demais às vezes, mas eu acho legal, porque as pessoas fazem por amor. Mas claro que acredito que tenha que se ganhar dinheiro também (risos). O filme foi parar na Amazon porque a nossa distribuidora, que é a ELO, escolheu o nosso filme. Eles estavam em busca de longa-metragens brasileiros inéditos… Aí eu mandei e adoraram. O filme foi vendido para a AMC, que é o canal que lançou Breaking Bad, The Walking Dead…”
“Se me perguntarem sobre como viabilizar um filme… Eu juro que não sei. Na minha vida as coisas foram simplesmente acontecendo. Até hoje eu só sei que vou fazendo as coisas. Só vou tentando e fazendo tudo que eu posso. E não me considero consolidado na carreira. Eu acho que cada projeto é uma batalha inesgotável, mas que também é muito bem-vinda e legal. Não me sinto consolidado no mercado audiovisual, mas me sinto um artista consolidado. Tem até uma frase no meu livro que diz: ‘A gente só sabe a nossa história depois de viver’, e eu acho que eu estou vivendo e não tenho a menor ideia de como as coisas acontecem comigo e do que vai acontecer.
Mais do que ficar procurando assunto para o próximo filme, eu gosto que os temas é que venham até mim. Gosto de prestar atenção no que a vida está me mostrando, no que está acontecendo ao redor, no contexto, e então me inspiro. Eu presto atenção nos sinais. Bebo muito da minha vida e das histórias que as pessoas mais próximas a mim têm. Talvez o que mais me inspire seja as próprias pessoas e seus relatos. Gosto de ouvir a todos. Inspiração é algo que não dá pra explicar. Simplesmente te atinge como um raio e você nem sabe de onde veio!”
O cineasta, e também escritor, lançou seu primeiro livro:
Guily conta que se encontrava em um momento difícil de sua vida. E sendo ele uma pessoa sensível aos sinais, acredita que vários acontecimentos não sejam um mero acaso, mas sim que apresentem certo simbolismo em nossas vidas. Enquanto ele trabalhava numa agência de propaganda, eis que aparece um beija-flor por lá. Ele conseguiu tomar o pássaro em suas mãos, delicadamente, como prova a foto abaixo. E quando ofereceu a liberdade para o pássaro, ao invés de voar, ele quis ficar. Ficou apoiado em seus dedos por um bom tempo e eles se olharam nos olhos. Guily sentiu uma forte conexão e isso modificou o astral e a energia de seu dia. Guily acredita que foi um sinal, um bom presságio. E ao pesquisar sobre o que a ave representaria na linguagem da simbologia, descobriu que ela de fato apresentava o significado de mudança inesperada. E justamente, não muito tempo depois, seu filme “Nudes” foi convidado para fazer sua estreia internacional num festival indiano, e ele convidado a representá-lo presencialmente por lá.
Guily agradeceu aos seus chefes pelo seu trabalho da época, mas pediu demissão, pois sentia que havia um chamado ali. Investiu todo seu dinheiro naquilo, e isso acabou por desencadear uma jornada, pois viajou por 6 países e viveu histórias incríveis. Depois daquele beija-flor, a sua vida de cineasta fluiu. E baseando-se nessas histórias, Guily também se tornou escritor e criou seu primeiro livro: “A dança de Naahan”. É possível adquirir seu exemplar no site: guilymachovec.com.br
Seguindo o exemplo do olhar sensível e atentando-nos aos pequenos detalhes da vida, convidamos vocês a olhar com mais cuidado ao seu redor, perceber a energia, as belezas e os sinais! Afinal, é melhor interpretar a vida através deste olhar mágico e apaixonado.
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