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Dica de série para o fim de semana: Cidade Invisível

Como a pessoa amante de folclore brasileiro que sou, nada mais justo que ter maratonado a série apenas algumas horas após ela ter estreado.

“Cidade Invisível” estreou na última sexta-feira (05/02/20) e eu aproveitei para assistir tudo de uma vez, porque o dinamismo e o mistério da série nos instigam a isso.  Prometo que não haverá spoilers!

Trata-se de uma aventura que se passa nos dias atuais, e uma família do Rio de Janeiro que acaba se vendo no olho do furacão, convivendo com as criaturas do folclore brasileiro, sem nunca ter notado! Acredito que a série conseguiu trazer esses personagens folclóricos icônicos para o mundo atual, trazendo-os para uma versão mais moderna.

A qualidade de efeitos especiais foi surpreendente, mas também só foi possível pelo alto investimento. É algo inovador principalmente porque o audiovisual brasileiro não tem tradição no gênero de fantasia, infelizmente. Mas é algo que sempre achei que deveria ser expandido. O audiovisual brasileiro precisa ter todos os gêneros, precisa se diversificar para atender toda e qualquer demanda que o público tenha. Não à toa, quando o brasileiro quer assistir um filme de fantasia, não é um filme nacional que ele busca. E isso serve para outros gêneros, como ficção científica, por exemplo. Mas esta foi uma grata surpresa e agradeço à Netflix pela oportunidade que deram para os brasileiros. Que bom que decidiram investir nesse projeto tão bonito, com um conteúdo e mensagem tão enriquecedores. 

Eu sou suspeita, pois sendo uma diretora e roteirista mais apegada ao gênero de fantasia, bem como tendo dirigido um filme sobre folclore brasileiro, era de se esperar que eu me apaixonaria pelo projeto e o maratonaria em poucas horas. E isso é possível porque a série tem apenas 7 episódios, porém muito bem amarrados, além de mistérios instigantes.

Atenção para as simbologias! A arte da série contém muitas cores que representam o nosso país, mais precisamente as cores de sua bandeira. A casa do protagonista, por exemplo, além de ser aconchegante, é a coisa mais fofa do mundo. Parece ter saído de um conto de fadas, mas ao mesmo tempo lembra a casa de uma verdadeira e humilde família brasileira, remetendo à casa da Grande Família, porém as cores da casa são essencialmente as que representam a nossa bandeira. As portas são verdes, mas em tons suaves, pastéis. As paredes tem tons amarelados… Tudo remetendo a esse canarinho que é o nosso Brasil. São cores convidativas, nativas e acolhedoras, apesar da série conter cenas de suspense e até possessões.

Saiba que no audiovisual nada é por acaso! Entenda que a cor de móveis, a cor do cenário e a escolha minuciosa de objetos são pensados detalhadamente para plantar algo nos espectadores. E quando vemos, nos identificamos ou nos afeiçoamos aos personagens e/ou aos cenários; enfim, à série em geral. E muitos dos elementos que vemos em séries e filmes nos influenciam de formas inconscientes, pelo menos na maioria das vezes.

Série Cidade Invisível

A casa do protagonista é humilde. É pequena, mas o quintal parece enorme. É cheio de verde, de plantas e árvores. O chão em sua maioria é batido de terra. A estrutura arquitetônica é simples e, fora as referências que eu já citei, acredito que houve a influência da casa do Sítio do Pica Pau amarelo, que apesar de ser diferente, pois seria uma casona na fazenda, e nem tão colorida, acredito que a pequena casinha remeta ao sentimento lúdico e aconchegante que só a casa de uma avó/Dona Benta, teria. E eis que somos introduzidos justamente a essa figura. A figura da avó! Numa lógica de folclore brasileiro, eis um símbolo que não poderia faltar, pois num contexto folclórico nacional, pessoas mais idosas, num geral, representam ativamente essas lendas, no sentido de que provavelmente a primeira lenda que você conheceu saiu da boca de uma pessoa mais velha que você. E talvez a mais velha da sua família ou da sua cidadezinha, se você veio do interior.

Isso acontece porque, por mais que o nosso folclore esteja internalizado hoje em documentos históricos do tipo livros, ele é e foi por muito tempo essencialmente oral. E na verdade acredito que a sua força e persistência se dê por conta disso. Embora obras literárias e (por que não?) obras cinematográficas sejam um ótimo jeito de fortalecer essa resiliência. E que bom que estamos encontrando uma brecha para trazer isso a tona e levar mundo afora. Que bons investimentos a Netflix fez, que chance indispensável que nos deu e que, acredito, aproveitamos muito bem.

Série Cidade Invisível

Também acredito que, o fato do folclore brasileiro ter sido abordado de forma mais adulta faz com que talvez os próprios brasileiros passem a levá-lo mais a sério, admirarem e respeitá-lo, assim como fazem com lendas celtas e europeias em geral, na verdade. 

Eu sempre levei a sério as criaturas do nosso folclore e acredito que possa ter diversas abordagens para trazê-los à tela. Seja através de um gênero mais pesado como suspense, drama ou investigação policial, ou seja através de uma abordagem infanto-juvenil, como foi o caso do meu último curta-metragem “O Canto do Sabiá”, gravado aqui em Ibitinga. Clique aqui para conferir o trailer. 

Clique para ver o documentário que mostra os bastidores: 

Talvez a minha única ressalva seja que as criaturas folclóricas ficaram demasiadamente expostas. E há certas cenas que acredito que elas poderiam ter feito aparições mais misteriosas. Digo isso no sentido técnico, na forma de expor essas figuras. Acredito que em muitos momentos haveria enquadramentos de câmera mais “atraentes” que valorizassem tais figuras. Gera mais curiosidade quando elas nem sempre são mostradas de corpo inteiro, por exemplo. Às vezes justamente o fato da criatura não aparecer direito é que provê uma maior potência na cena. Mas também entendo que na medida em que a série quer trazer uma abordagem mais forte e adulta ao mundo folclórico, ela também não quer restringir tanto o público, portanto enquanto a história pode ser mais “forte” por ter possessões, por exemplo, ela também se torna atraente para o público infanto-juvenil, porque a escolha de planos e da fotografia permitem esse lado mais versátil, flexível e “juvenil”. A fotografia consegue entregar um ambiente que agrada o público mais adulto e o público jovem, e até infantil (na faixa de uns 10 anos para cima, acredito). 

Série Cidade Invisível

A nova interpretação da bruxa “Cuca” foi talvez uma das coisas mais criativas da série. Além de trazer Alessandra Negrini no papel, ela também nos mostra uma versão não só mais moderna da bruxa, mas também mais humana, no sentido de que não é “do mal” ou “do bem”. Ela é uma entidade bem humanizada, que tem sua história pregressa e seus princípios, e vai lutar por eles. Taí uma boa surpresa que a série nos concede ao quebrar esse maniqueísmo.

A questão do boto-cor-de-rosa acredito que traz diversas interpretações, e uma que enxergo é a alienação parental no sentido do abandono promovido por diversos homens em relação aos seus filhos e moças que engravidam. É uma visão muito madura e válida que a série traz e acredito que deixa em aberto para que cada um interprete da maneira que quiser, mas é assim que eu enxergo pelo menos. 

Série Cidade Invisível

Outra lenda que é tratada na série é a do “Corpo Seco”, que é, de longe, a que mais me dá calafrios. Eu tenho muito carinho por várias criaturas do folclore brasileiro, mas essa é a exceção, digamos. Mas a série mais uma vez inova, pois dá uma interpretação diferente para a lenda, que em geral fala que certo homem muito ruim falace e não é aceito nem pelo céu e nem pela terra, passando a vagar por aqui mesmo. Porém na nova versão, não é o homem que passa a ser uma espécie de zumbi, e sim a sua alma penada. 

Sobre a figura do Saci, o episódio que retrata a sua origem (ou pelo menos uma das) é o que mais me comoveu e o que mais me chamou a atenção. Você vê que se trata de uma série de aventura, fantasia e, no máximo investigação policial, porque a escolha da fotografia noturna ser azul e não escura total é gritante. A noite, na série “Cidade Invisível” não é ameaçadora. Me parece fresca e misteriosa, mas não sinistra e perigosa. É lúdica, poética e quase convidativa. Pelo menos nas cenas da floresta. E na cena que abre o episódio que narra a origem do Saci, eu achei a fotografia maravilhosamente bela, uma poesia visual, apesar de cenas tristes. Confesso que me emocionei com a beleza, mas as lágrimas também foram de piedade da história do pobre menino. Enfim, uma obra prima. E enquanto isso, aguardo as próximas criaturas que serão abordadas nas próximas temporadas! 

Série Cidade Invisível

Confira o trailer da série e… O que tá esperando? Vai correndo assistir na Netflix depois! 

Curtiu a resenha? Confira outras dicas de série clicando aqui e garanta sua diversão em casa aos finais de semana!

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